sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Nesta cidade nem todos são filhos d´Oxum


A celebração do dia de Iemanjá em Barreiras é uma festa que tem aproximadamente vinte se sete anos. A comemoração à Rainha das Águas tem a participação da sociedade e principalmente dos Terreiros. Não é um festejo que para ele se juntam somente pais, mães e filhas de santo, o povo chega e se joga trazendo oferendas e nas águas de cheiro, de rosas se banham. São simbologias que preenchem o inconsciente coletivo fazendo transbordar corações e mentes a reverenciar Iemanjá.

São nas águas desse Rio que é grande e acolhedor que o festejo a Iemanjá ocorre. O Rio Grande recebe em suas veias abertas a Rainha das Águas e todos seus filhos e filhas, admiradores e curiosos. O Rio Grande transforma-se, adquirindo persona. Torna-se uma testemunha ocular da história deste município, ao passear pela zona rural e pela cidade, assiste e registra os caminhos e descaminhos do “desenvolvimento”.

Todos que chegam à cidade de Barreiras passam a conhecer este veio d água que nasce nas escarpas do Espigão Mestre, serra que separa duas grandes Bacias hidrográficas a do São Francisco e do Tocantins. Ele, o Grande Rio, desce pelo cerrado dando e recebendo contribuições de homens e de seus afluentes, presentes ora caros, ora benevolentes, até se encontrar com o das Ondas, fundos do Orfanato Davi Gomes, e mais na frente com São Francisco na cidade da Barra, dos barranqueiros, canoeiros, barqueiros e do Frei Luiz.

O Rio Grande foi testemunha, no dois de fevereiro de 2009, de um ato de intolerância religiosa, quando espicharam um pedaço de morim branco, tecido de algodão, com dois suportes de madeira em cada extremidade amarrado a barbantes que se transformam em tirantes para esticar o pano a ser atracado no poste da direita e da esquerda. Na faixa estava escrito uma mensagem que tinham palavras que juntas formavam uma mensagem enaltecedora para Oxun e aos filhos e filhas que Barreiras abraçou. A frase era uma paráfrase à composição musical de Jerônimo, “ESTÁ CIDADE É DOXUM”.

Este mesmo veio d’água que passa pelo cais da “Barreira Grande” também presenciou quando trabalhadores da Prefeitura subiram um no poste da esquerda e outro no poste da direita e arriaram, e enrolaram, e colocaram entre os braços e depois sumiram com o material têxtil. (uma ordem). Da Praça Landulfo Alves, o largo do cais, a faixa escafedeu. Mas na retina e na mente daqueles que a tudo foram testemunhas oculares, a faixa permanece bem viva: NESTA CIDADE NEM TODOS SÃO FILHOS DE OXUM.

Por que o pedaço de pano com sua mensagem foi politicamente retirado?  É importante que busquemos em nossa inteligência as correlações dos fatos, pessoas e instituições. O fato da retirada da faixa em homenagem a Oxum e aos filhos e filhas de Barreiras teve significado político, administrativo e cultural para os habitantes de Barreiras. Pois, o que se pode vivenciar durante a administração municipal que se encerrou em dois mil e doze foi a edificação de uma ideia em que o respeito pelo diverso e o diferente fosse desconsiderado.

Mesmo assim os tambores ecoaram sons que penetraram corações e consciências e o mundo rodou. Iemanjá chegou e o seu reinado aconteceu. A Praça que é do povo foi por ele ocupada. A despeito dessa ou daquela vontade. O Rio que a tudo viu, fez pouco caso da descortesia continuou cantando: Água de beber, água de molhar, água de benzer água de molhar.

É certo que os “meninos da arte”, ou melhor, da então Coordenação Cultural do município de Barreiras mandaram confeccionar a tal faixa, embalados pelos valores morais e espirituais que têm pelo belo e pela liberdade de expressão religiosa. A Lei maior do país assim determina e a Lei Orgânica Municipal de Barreiras também faz referência às liberdades individuais e coletivas dos moradores desta cidade que é de Oxum, do Senhor dos Aflitos, de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e também daqueles e daquelas que não comungam dos caminhos religiosos. Esta cidade não tem proprietário. As mentes desta cidade não têm setas que apontam para um só caminho político partidário e ou religioso. Este município é plural, a Bahia é mais, o Brasil é de todos.  

Os reinos que foram erguidos tendo a violência como madrinha ou a arma da propaganda, em um belo dia caíram em ruínas. A rainha que não é das águas ficou nua e pela cidade passeou, desfilando com seu it e das sacadas e janelas e pelo cais do porto, todos e todas se escandalizavam. Ela pensava que continuava com os mesmos trajes e adornos usados nas melhores ocasiões, que estava perfumada. Mas, certo odor do seu corpo desprendia.

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