A
celebração do dia de Iemanjá em Barreiras é uma festa que tem aproximadamente
vinte se sete anos. A comemoração à Rainha das Águas tem a participação da
sociedade e principalmente dos Terreiros. Não é um festejo que para ele se
juntam somente pais, mães e filhas de santo, o povo chega e se joga trazendo
oferendas e nas águas de cheiro, de rosas se banham. São simbologias que
preenchem o inconsciente coletivo fazendo transbordar corações e mentes a reverenciar
Iemanjá.
São
nas águas desse Rio que é grande e acolhedor que o festejo a Iemanjá ocorre. O
Rio Grande recebe em suas veias abertas a Rainha das Águas e todos seus filhos
e filhas, admiradores e curiosos. O Rio Grande transforma-se, adquirindo
persona. Torna-se uma testemunha ocular da história deste município, ao passear
pela zona rural e pela cidade, assiste e registra os caminhos e descaminhos do
“desenvolvimento”.
Todos
que chegam à cidade de Barreiras passam a conhecer este veio d água que nasce
nas escarpas do Espigão Mestre, serra que separa duas grandes Bacias
hidrográficas a do São Francisco e do Tocantins. Ele, o Grande Rio, desce pelo
cerrado dando e recebendo contribuições de homens e de seus afluentes,
presentes ora caros, ora benevolentes, até se encontrar com o das Ondas, fundos
do Orfanato Davi Gomes, e mais na frente com São Francisco na cidade da Barra,
dos barranqueiros, canoeiros, barqueiros e do Frei Luiz.
O
Rio Grande foi testemunha, no dois de fevereiro de 2009, de um ato de
intolerância religiosa, quando espicharam um pedaço de morim branco, tecido de
algodão, com dois suportes de madeira em cada extremidade amarrado a barbantes que
se transformam em tirantes para esticar o pano a ser atracado no poste da
direita e da esquerda. Na faixa estava escrito uma mensagem que tinham palavras
que juntas formavam uma mensagem enaltecedora para Oxun e aos filhos e filhas
que Barreiras abraçou. A frase era uma paráfrase à composição musical de Jerônimo,
“ESTÁ CIDADE É DOXUM”.
Este
mesmo veio d’água que passa pelo cais da “Barreira Grande” também presenciou
quando trabalhadores da Prefeitura subiram um no poste da esquerda e outro no
poste da direita e arriaram, e enrolaram, e colocaram entre os braços e depois
sumiram com o material têxtil. (uma ordem). Da
Praça Landulfo Alves, o largo do cais, a faixa escafedeu. Mas na retina e na
mente daqueles que a tudo foram testemunhas oculares, a faixa permanece bem
viva: NESTA CIDADE NEM TODOS SÃO FILHOS DE OXUM.
Por
que o pedaço de pano com sua mensagem foi politicamente retirado? É importante que busquemos em nossa
inteligência as correlações dos fatos, pessoas e instituições. O fato da
retirada da faixa em homenagem a Oxum e aos filhos e filhas de Barreiras teve
significado político, administrativo e cultural para os habitantes de
Barreiras. Pois, o que se pode vivenciar durante a administração municipal que
se encerrou em dois mil e doze foi a edificação de uma ideia em que o respeito
pelo diverso e o diferente fosse desconsiderado.
Mesmo
assim os tambores ecoaram sons que penetraram corações e consciências e o mundo
rodou. Iemanjá chegou e o seu reinado aconteceu. A Praça que é do povo foi por
ele ocupada. A despeito dessa ou daquela vontade. O Rio que a tudo viu, fez
pouco caso da descortesia continuou cantando: Água de beber, água de molhar,
água de benzer água de molhar.
É
certo que os “meninos da arte”, ou melhor, da então Coordenação Cultural do
município de Barreiras mandaram confeccionar a tal faixa, embalados pelos
valores morais e espirituais que têm pelo belo e pela liberdade de expressão religiosa.
A Lei maior do país assim determina e a Lei Orgânica Municipal de Barreiras
também faz referência às liberdades individuais e coletivas dos moradores desta
cidade que é de Oxum, do Senhor dos Aflitos, de Nossa Senhora do Perpétuo
Socorro e também daqueles e daquelas que não comungam dos caminhos religiosos.
Esta cidade não tem proprietário. As mentes desta cidade não têm setas que
apontam para um só caminho político partidário e ou religioso. Este município é
plural, a Bahia é mais, o Brasil é de todos.
Os
reinos que foram erguidos tendo a violência como madrinha ou a arma da
propaganda, em um belo dia caíram em ruínas. A rainha que não é das águas ficou
nua e pela cidade passeou, desfilando com seu it e das sacadas e janelas e pelo
cais do porto, todos e todas se escandalizavam. Ela pensava que continuava com
os mesmos trajes e adornos usados nas melhores ocasiões, que estava perfumada.
Mas, certo odor do seu corpo desprendia.
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