segunda-feira, 18 de junho de 2012

Relembranças

Badu por Juraci Lima

A transitividade direta de lembrar e mais ainda re-lembrar, nos coloca numa sintonia plugal entre o lugar memória em que estamos a partir do agora para o pretérito de nossa existência e de outras pessoas e lugares, ao mesmo tempo em que nos remete a outro momento não vivido, porém e certamente possível de acontecer. Neste sentido, a Companhia Teatrando nos colocou em situação de relembranças, a partir da história contada por Cléber Luiz, escritor – poeta – compositor e cantor, a cerca de personagens da cena barreirense a exemplo do Senhor Badu, Suringa, Tonha e Gasolina. Personagens que marcaram, em diversos momentos, a vida barreirense e que por força das circunstâncias naturais tiveram que pegar o transporte da mortalidade e se estabelecerem em outras dimensões. Mas, voltam a habitarem os logradouros públicos a partir do exercício de memória, da palavra dita e escrita, e desta feita pela boca e pelo corpo do artista em cena, Ramon Sousa e de Lucélia Gomes da Companhia Teatrando no espetáculo Relembranças: Tributo a Djalminha, levado no palco do Centro Cultural Rivelino Carvalho durante os dias 29 / 31 de maio a 1º de junho.

Durante os anos noventa a dois mil o universo teatral barreirense contou com o Grupo Rapsodos, mensageiros, que dava o recado pelos espaços culturais de Barreiras e região: Severin a Real Ocupação foi um dos espetáculos levados pelo Rapsodos que tratava da ocupação econômica do Oeste da Bahia de forma e conteúdo satírico, uma crítica político-social ao tempo da grilagem de terras e da violência rural. Djalma Araújo foi integrante do Rapsodos e sua passagem por este grupo de teatro deixou marcas representando personagens da cena barreirense, entre eles Badu e Gasolina que ao lado de Drica Garcia que vivenciou Tonha, a esposa de Antônio Gasolina o areeiro do Rio Grande que entre uma pá e outra a pinga cotegipana e ou, brejeira, descia em correnteza pela sua garganta direitinho para inundar o coração de palavras apaixonadas dirigidas à Tonha. 

Djalminha se despediu de maneira sutil, ou violenta? O tempo vai dizer aos quatro cantos da beira do cais do Rio Grande.

O teatro barreirense não é de hoje...

No início do século XX, os textos teatrais eram escritos por Alfredo Sampaio que também foi ator. Entre suas obras destacam-se Os Humildes, As Três Irmãs e o Silêncio é Ouro. Outro baluarte da teatralidade barreirense foi Oscar Rodrigues que dirigiu o Grupo Oscar Artes no transcurso dos anos oitenta.  Barreiras também contou com a contribuição de outros atores/atrizes do Grupo de Jovens da paróquia de São João Batista - JUSC, Juventude a Serviço da Comunidade durante os anos oitenta e noventa.

O agora não é estanque, não se encerra nele mesmo. O agora é o ponto que liga o passado ao futuro.  Neste sentido, a arte em Barreiras é carente de políticas públicas de cultura. De há muito os fazedores de cultura, os militantes do belo, os insurgentes da luta pela vida batalham em suas alcovas... Agora é o tempo do Teatrando, do Chuá Chuá, do Saco de Risadas...

Ferreira Gullar, com seu poema Dentro da Noite Veloz – uma reflexão sobre a vida e morte de Guevara nas selvas bolivianas, nos possibilita completar esta memória diante a pessoa de Djalminha e dizer aos companheiros e companheiras que a batalha não está finda, pois...

...”A vida muda como a cor dos frutos 
lentamente 
e para sempre .
A vida muda como a flor em fruto 
velozmente .
A vida muda como a água em folhas, 
o sonho em luz elétrica, 
a rosa desembrulha do carbono, 
o pássaro da boca 
mas, 
quando for tempo. 
E é tempo todo o tempo, 
mas 
não basta um século para fazer a pétala 
que um só minuto faz 
ou não, 
mas 
a vida muda 
a vida muda o morto em multidão".





Um comentário:

  1. É isso. A arte a serviço da sociedade. Que ela seja sempre levada para todos como forma de boa política e não apenas notícia de mídia.
    Em frente Xuá-Xuá, Teatrando e Saco de Risadas!

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